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Por que me desliguei do Druidismo?

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"O Caldeirão de Annwn" - por Hugo Cezar F. Gondim, 2021 Eu era um garoto de 13 anos quando li pela primeira vez a palavra "druida", sentindo uma incrível conexão com uma sabedoria do qual não sabia explicar. Até aquele momento tinha tido uma educação católica e minha fé estava depositada em Jesus Cristo e Nossa Senhora, assim como minha festividade preferida era as Festas de São João e as celebrações Natalinas. Nas minhas orações eu pedia pelos animais, as árvores e o meio ambiente, pois minha geração foi criada para viver o apocalipse ecológico. Por vários motivos fui me afastando da Igreja Católica Apostólica Romana e da minha raiz materna nordestina - algo que foi muito dolorido e frustrante para minha mãe - e assumindo um esoterismo indefinido, fragmentado. Lembro de meu primeiro livro que abordava práticas neo-pagãs, focando-se na Wicca. Quase foi jogado no lixo quando minha mãe viu. Meu pai também nada aprovou. Com um certo receio obtinha algum apoio da minha

Ciclo V: Simbologia, Imagens e Associações

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  "Blodeuwedd", de Alan Lee. "O símbolo revela certos aspectos da realidade – os mais profundos – que desafiam qualquer outro meio de conhecimento. As imagens, os símbolos e os mitos não são criações irresponsáveis da psique; elas respondem a uma necessidade e preenchem uma função: revelar as mais secretas modalidades do ser. Por isso, seu estudo nos permite melhor conhecer o homem, “o homem simplesmente” (...) (Mircea Eliade) No ciclo que se segue iremos observar sobre os símbolos que cercam a psiquê arquetípica de Blodeuwedd, as representações imagéticas que normalmente se constroem na profundidade de sua mítica e algumas associações de suas facetas na natureza  selvagem e humana. Adianto que essa divindade ancestral de origem céltica dispersa essências muito peculiares da cultura desses povos ligadas aos ciclos, as elementos naturais, a numerologia, a objetos da tradição e ao feminino no mundo ocidental. Quiçá esses atributos sejam gatilhos que levam a busca de Blode

Ciclo IV: Comparação Mitológica

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  Nesse quarto ciclo parei para refletir sobre divindades do mundo clássico no sentido de realizar uma comparação mitológica de histórias e observar semelhanças entre estas e Blodeuwedd. Tomei como foco uma linha espiritual do qual descendem as culturas que nascem no vale do Indo e vão até os confins europeus. Embora possamos encontrar algumas histórias semelhantes em culturas africanas e indígenas, preferi manter uma leitura sobre deusas que são da mesma raiz linguística, histórica e cultural – até porque poderia não fazer sentido ou parecer muito forçado buscar familiaridades entre um aspecto tão diferente do outro. Como sabemos, as línguas celtas tem origem indo-europeia, podemos encontrar algumas parentalidades com os povos vizinhos e civilizações anteriores, que podem ser comparadas como primas e até avós da herança celta que chegou até nós. Por isso, creio eu que não estarei cometendo um pecado grave ao buscar as faces de Blodeuwedd cantadas pelos bardos entre aedos ou gurus. E

Calennig - Um Costume Galês de Ano Novo

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  No dia 31 de Dezembro se festeja a véspera de Ano Novo, a Virada do Ano, o Réveillon . No Brasil as pessoas se reúnem com suas famílias, f azem a ceia, brindam com muita alegria,  vestem roupas com cores que acreditam trazer boa sorte, pulam sete ondas no mar e realizam diversas superstições no sentido de buscar um ano melhor. Essa simbiose de festas eufóricas se repete pelo globo de formas e razões diferentes, tomando a ideia e conceito das culturas locais. Uma das datas mais marcantes do calendário contemporâneo, onde percebe-se que cada região do planeta parece convergir em uma egrégora que, para além de festivas, encontra em suas culturas formas de congregar e emanar um tipo de Nwyfre (força ou energia) planetária. Isso não é diferente entre as nações célticas. O Calennig (pronuncia-se KEL-Ê-NIG) é um costume festivo tradicional no País de Gales que comemora o giro do ciclo do calendário comum, fazendo parte das comemorações de finalização do ano. O termo em galês tem um sign

Ciclo III: Reler o Mito com Outros Olhos

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  E se pudéssemos ler o mito sobre uma ótica mais lúdica, retirando os véus seculares que camuflam símbolos tão simples através das alegorias presentes no Quarto Ramo do Mabinogion? Os mitos trazem mistérios em seu interior que os bardos podem traduzir para os que decidem se iniciar neles. Precisa-se de uma chave: sensibilidade. E para isso, é necessário libertar nossa criança interior e não levar muito a sério tudo que ali está escrito, recriando uma narrativa que vá trazer um sentido original e ordenar uma lógica mais brincante, como fazem os contadores de história. E isso que proponho aqui, através de uma releitura mítica que mostra os personagens do conto galês onde Blodeuwedd se apresenta como seres originais da criação e o próprio universo como um grande caldeirão onde somos parte como ingredientes do elixir da vida. O mais interessante a observar é que essas divindades parecem morar no céu, como estrelas e constelações que lembram a Ursa Menor e Maior, Corona Borealis, Plêiade

Ciclo II: A Mítica e as Identidades

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  Dialogar sobre fontes e a poética mítica acerca de Blodeuwedd  é como tirar leite de pedras. Embora sua narrativa sagrada e suas referências na oralidade ou tradição sejam poucas, beirando ao mistério sobre essa musa, sempre refiro que a sobrevivência de seu arquétipo parece ser um deleite, ao mesmo tempo em que um grito forte no ar pela feminilidade que divide-se como a filosofia druídica em sábia e selvagem. Nesse ciclo nos aprofundaremos em temas como a histórica tradicional que expressa os elementos da Deusa, o panteão a qual pertence e suas identidades, epítetos, apelidos, títulos ou formas de chamar sua presença de flores. Para tal, num primeiro momento transcrevi os trechos do livro “Mitos e Lendas Celtas: País de Gales” de Angélica Varandas e da obra “A Deusa Branca” de Robert Graves para uma leitura. Após descrevi um pouco do Panteão Britônico ou Galês, com os nomes e breves resumos sobre as divindades femininas e masculinas provindas principalmente dos contos do Mabinogion