Ciclo II: A Mítica e as Identidades

 


Dialogar sobre fontes e a poética mítica acerca de Blodeuwedd  é como tirar leite de pedras. Embora sua narrativa sagrada e suas referências na oralidade ou tradição sejam poucas, beirando ao mistério sobre essa musa, sempre refiro que a sobrevivência de seu arquétipo parece ser um deleite, ao mesmo tempo em que um grito forte no ar pela feminilidade que divide-se como a filosofia druídica em sábia e selvagem. Nesse ciclo nos aprofundaremos em temas como a histórica tradicional que expressa os elementos da Deusa, o panteão a qual pertence e suas identidades, epítetos, apelidos, títulos ou formas de chamar sua presença de flores. Para tal, num primeiro momento transcrevi os trechos do livro “Mitos e Lendas Celtas: País de Gales” de Angélica Varandas e da obra “A Deusa Branca” de Robert Graves para uma leitura. Após descrevi um pouco do Panteão Britônico ou Galês, com os nomes e breves resumos sobre as divindades femininas e masculinas provindas principalmente dos contos do Mabinogion e dos livros clássicos da literatura primeva do País de Gales, com seus campeões e damas.


O Mito Poesia


 

“[...] a mulher-flor deve ter sido criada de nove tipos de flores. Cinco delas aparecem no Câd Goddeu; alhures, outras três – giesta, rainha-dos-prados e flores do carvalho – surgem no relato do mesmo evento no Romance Math the Sono f Mathonwy; a nona flor é provável que fosse o pilriteiro, porque Blodeuwedd é outro nome de Olwen, a rainha-de-maio, e (segundo o Romance of Kilhwych and Olwen) filha de algum tipo de pilriteiro ou da árvore-de-maio; contudo, também pode ter sido a nona, a flor do trevo que floresce em branco.

HANES BLODEUWEDD

Not of father nor of mother

Was my blood, was my body,

I was spellbound by Gwydion,

Prime enchanter of the Britons,

When he formed me from nine blossoms,

Nine buds of various kind:

From primrose of the mountain,

Broom, meadow-sweet and cockle,

Together intertwined,

From the bean in its shade bearing

A white spectral army

Of earth, of earthly kind,

From blossoms of the nettle,

Oak, thorn and bashful chestnut –

Nine powers of nine flowers

Nine powers in me combined,

Nine buds of plant and tree.

Long and white are my fingers

As the ninth wave of the sea

 

Nem de pai nem de mãe

Era meu sangue, era meu corpo,

Fui enfeitiçada por Gwydion,

Grande feiticeiro dos Bretões,

Quando me formou de nove flores,

Nove brotos de vários tipos:

Da prímula da montanha,

Giesta, rainha-do-prado e joio,

Juntos e entremeados,

Do faveiro em sua sombra guardando

Espectral exército branco

De terra, de tipo terrenal,

De brotos das urtigas,

Carvalho, espinheiro e tímido castanheiro

Nove poderes de nove flores

Nove brotos de planta e de árvore.

Meus dedos [são] longos e brancos

Como a nona onda do mar.

 

(Trecho do livro “A Deusa Branca”, pág. 55 e 56)

 

*** 

 



 “Os dois homens [Gwydion e Llew] voltaram para junto de Math, a quem se queixaram a Arianrod e a quem contaram como haviam conseguido que o rapaz tomasse armas. Faltava agora encontrar-lhe uma mulher.

‘Muito bem’, disse Math a Gwydion, ‘Eu e tu, através dos nossos feitiços de magia e ilusão, criaremos para o rapaz uma mulher a partir de flores’. Pegaram então na flor do carvalho, na flor da giesta e na flor da rainha-dos-prados e com elas fizeram a mais bela donzela e a mais graciosa de todas quantas existiam. E chamaram-lhe Blodeuwedd.

Depois da cerimónia do casamento entre Llew e Blodeuwedd, Gwydion disse a Math que era necessário que o rapaz tivesse terra. Math deu-lhe então o cantrev de Donodig, que também se chama Eivionydd, e Ardudwy. Aí Llew construiu o seu castelo e aí reinou com muita prosperidade.

Um dia, Llew foi visitar Math a Caer Dathyl. Nesse mesmo dia, Blodeuwedd ouviu, no seu castelo, o som de uma trombeta, após a qual avistou um veado exausto de tanto correr dos cães e dos caçadores que o perseguiam. Atrás destes vinham ainda muitos homens a pé. Blodeuwedd mandou um mensageiro saber quem se aproximava e descobriu que se tratava de Grown Pebyr, Senhor de Penllyn. Grown Pebyr conseguiu, por fim, matar o veado e esteve todo o dia à esfolá-lo e a preparar a sua carne, pelo que só ao anoitecer se aproximou dos portões do castelo de Blodeuwedd. Para não quebrar as regras da hospitalidade, ela convidou-o a aí pernoitar. Ele aceitou com agrado. Mas assim que Blodeuwedd cruzou o seu olhar com o dele, o seu coração encheu-se de amor. Também ele, ao olhá-la se enamorou dela tão perdidamente que foi obrigado a declarar-lhe o seu amor. Blodeuwedd ficou muito feliz e todo o serão foi passado a conversão sobre o sentimento que os unia a ambos. Nessa noite, dormiram juntos.

No dia seguinte, quando Grown se preparava para partir, Blodeuwedd pediu-lhe para ficar mais uma noite, pois sabia que o marido não regressaria ainda a casa. Grown ficou com ela e logo se puseram a pensar em como haviam de permanecer juntos para sempre. ‘Só há uma maneira’, disse Grown, ‘Llew Llaw Gyffes tem de morrer. E para descobrires como há-de ele encontrar a sua morte, terás de mostrar por ele muita afeição’.

No dia seguinte, quando Grown se preparava para partir, ela rogou-lhe para ficar com ele uma vez mais. Ele acedeu e também na noite desse dia dormiram juntos.

Na manhã do dia seguinte, Grown foi, por fim, embora, mas, antes de partir, voltou a avisá-la de que apenas com modos de muito amor e afeição para com Llew podia ela descobrir como haveria o marido de morrer.

Llew regressou a casa nessa noite. Após os festejos habituais, foi-se deitar com Blodeuwedd e tentou falar com ela, mas ela não articulava palavras.

‘Que se passa contigo?’, perguntou Llew.

‘Estava preocupada a pensar na tua morte, pois temo que partas antes de mim’, respondeu ela.

‘Abençoada sejas pelo teu cuidado, mas não é fácil matarem-me.’

‘Então diz-me como te poderão matar, pois sou capaz de guardar um segredo melhor do que tu.’

‘Dir-te-ei com prazer’, afirmou Llew. ‘Apenas poderei morrer se lança que me ferir tiver levado um ano a ser forjada e quem tiver forjado nada mais tiver feito, a não ser aos domingos quando as pessoas estiverem na missa. Para além disso, não poderei ser morto nem dentro e nem fora de uma casa, nem a cavalo nem a pé.’

‘Como te poderão então matar?’, quis ela saber.

‘Só me poderão matar se me prepararem um banho junto à margem de um rio e construírem um telhado de colmo muito apertado sobre a tina do banho. Terão de trazer um bode e colocá-lo ao lado da tina. Quem me ferir nesta situação, consiguirá matar-me.’

Blodeuwedd mandou de imediato esta notícia a Grown, que forjou, ele próprio, a espada que haveria de estar pronta para ferir Llew daí a um ano. Decorrido esse período de tempo, Blodeuwedd disse ao marido:

‘Senhor, tenho estado a pensar se o que me disseste sobre a tua morte é verdade. Se eu te preparar o banho, mostra-me como consegues tu pôr um pé em cima do bode e o outro na borda da tina?’

Llew concordou.

Blodeuwedd preparou o banho, mandou construir o telhado e colocou o bode ao lado da tina. Grown esperava escondido num arbusto , pronto para desferir o golpe fatal. Llew entrou no banho e fez como havia explicado. Nesse momento, Grown saltou dos arbustos e, com um joelho em terra, lançou a arma envenenada cuja ponta ficou cravada no peito Llew. Este tomou a forma de uma águia e, com um grito, elevou-se nos céus e nunca mais foi visto. Grown e Blodeuwedd voltaram para o palácio onde dormiram juntos essa noite. E no dia seguinte Grown tornou-se senhor de Ardudwy.

Quando Math soube do sucedido, foi tomado por uma profunda tristeza. Maior foi a dor de Gwydion, que fez questão de ir procurar o sobrinho. Partiu com a bênção de Math e, em Maenawr Penardd, chegou a casa de um dos seus súditos, onde pernoitou. Quando o dono da casa entrou, vinha a conversar com seu porqueiro e perguntava-lhe se a porca já tinha regressado a pocilga. O porqueiro disse que sim. Gwydion perguntou:

‘E aonde vai a porca para sair da pocilga?’

‘Todos os dias, quando a porta da pocilga é aberta, a porca sai e ninguém sabe para onde ela vai.’

Gwydion pediu para manterem fechada a porta da pocilga, até que ela dela se aproximasse.

Pela manhã, Gwydion apressou-se a ir com o porqueiro  para junto da pocilga. Nesse momento, o porqueiro abriu a porta, e a porca saiu a grande velocidade. Gwydion seguiu-a. Junto ao regato de Nant y Llew, a porca parou para comer. Gwydion reparou que ela comia vermes  e carne putrefacta. Reparou também, que no cimo da árvore por detrás da qual se escondia, estava pousada uma águia. Sempre que esta águia se sacudia, caiam de suas penas vermes e carne apodrecida que a porca devorava. Pareceu então a Gwydion que a águia era Llew e cantou um englyn sobre a árvore e a ave nela empoleirada, afirmando que suas feridas o faziam crer que era Llew. Ao ouvir estas palavras, a águia desceu ao centro da árvore. Gwydion cantou então outro englyn, dizendo que no alto da árvore havia encontrado Llew Llaw Gyffes. Logo, a águia desceu até o ramo mais baixo da árvore. Por fim, Gwydion cantou o ultimo englyn sobre a árvore imponente e majestosa e sobre Llew que, como ave, lhe veria pousa no regaço. E, de imediato, a águia veio descansar no joelho de Gwydion que lhe tocou com uma varinha mágica para que retomasse a forma humana. Mas Llew já não tinha o aspecto que possuía antes: o seu corpo metia dó porque era apenas pele e osso. Por isso, Gwydion levou-o para Caer Dathyl, onde foi tratado pelos melhores físicos e, ao fim de um ano, já estava restabelecido. Chegado esse momento, Llew quis vingar-se de quem lhe tinha causado tanto sofrimento e pediu auxílio a Math. Reunindo todos os homens de Gwynedd, partiram, pois, para Ardudwy. Assim que Blodeuwedd percebeu que vinham a caminho, fugiu com as suas damas para as montanhas. Mas, como corriam de rosto voltado para trás, com medo de seus perseguidores, caíram num lago e todas morreram afogadas, com excepção de Blodeuwedd que logo foi acompanhada por Gwydion. Este disse-lhe:

‘Não te matarei, porque farei pior do que isso. Transformar-te-ei num pássaro e nunca te mostrarás durante o dia com medo dos outros pássaros, por causa do que fizeste a Llew Llaw Gyffes. Se o fizeres, todas as outras aves te atacarão e te perseguirão até te matarem. Mas não te tirarei o nome. Serás para sempre chamada de Blodeuwedd.’ Na linguagem do tempo presente, Blodeuwedd significa coruja e é por esta razão que todas as aves odeiam as corujas e atacam sem dó nem piedade.

Por sua vez, Grown Pebyr enviou um conjunto de embaixadores a Llew, para que este lhe dissesse o que lhe exigia em troca dos insultos e dos danos que sofrera. Mas Llew não quis nem ouro e nem terras: ‘Ele que venha até ao mesmo local onde me feriu de morte com a lança envenenada e eu far-lhe-ei exactamente o mesmo’, afirmou.

Grown ficou desolado e perguntou aos seus fiéis súditos, aos seus irmãos adoptivos e a todo o seu séquito se, entre eles, não haveria alguém disposto a sofrer o golpe fatal em vez dele. Nenhum deles consentiu em receber o golpe em vez do seu senhor, pelo que foram desde então apelidados de ‘A Terceira Tribo Desleal’.

Grown não teve alternativa senão ir ele próprio receber o golpe. Colocou-se, pois, no local ocupado por Llew e este, por sua vez, posicionou-se no sítio onde Grown havia estado. E o último pediu a Llew para colocar entre si e o golpe uma laje que estava na beira do rio para se proteger, uma vez que havia sido enganado pela manha de uma mulher.

Llew consentiu. Atirou então a lança e esta furou a laje e perfurou também o corpo de Grown, saindo pelas suas costas. E assim foi morto Grown Pebyr. A laje, com um buraco no meio, pode ainda hoje encontrar-se nas margens do rio Cynvael, em Ardudwy. E por isso ela é chamada de Llech Grown (Pedra de Grown).

Llew retomou as suas terras e as suas gentes e governou-as em paz, trazendo-lhes prosperidade. Mais tarde, tornou-se senhor de Gwynedd. E assim termina esse conto do Mabinogi.

(Trecho do ramo Math, filho de Mathonwy, do livro “Mitos e Lendas Celtas – País de Gales, pág. 84 à 88)

***

O Panteão Britônico/Galês



Blodeuwedd com certeza está circunscrita como noiva branca do rei-guerreiro da tribo, a Soberania da Terra. Será muito fácil associá-la a outras divindades do mundo celta (se não forem sinônimos de seu nome ditos no vento por séculos) como Brigid, Blanchefleur, Blaithine, Blathnat, Olwen, Creiddylad e Ategina. O Panteão Familiar onde reside a história de Blodeuwedd é sem dúvida o Galês ou Britônico. Num entendimento meu, sua morada deve ser Ynys Afallach, a Ilha das Maçãs – ela sendo o arquétipo uno das nove governantes desse país além mundo. Ou então Annwfn - sendo os nove rostos das musas que sopram o caldeirão da poesia. Se panteão é um conjunto de deidades que participam de uma família, história mítica e linha de culto comum, então obviamente que Blodeuwedd estará entre as deidades ancestrais galesas. Segue um quadro resumido sobre seus parentes míticos próximos:

Pwyll: Senhor de Dyfed, primeiro esposo de Rhiannon e pai de Pryderi, um dos principais heróis dos contos do Mabinogion. Ele também tem o título de Senhor e Annwfn, por ter reinado no lugar de Arawn por um ano e um dia. Referido como um rei bom, justo e próspero.

Arawn: Senhor de Annwfn, considerada para alguns como um reino no Outro Mundo, já que “Longo é o dia e longa é a noite, e longa é a espera em Annwfn”, ou seja, um reino onde o tempo é diferente do nosso. Arawn é descrito como um rei caçador com vestes muito trabalhadas e ricas, possuindo uma matilha de cães de pelagem branca e orelhas vermelhas. Lembra o Hades dos gregos. A sua figura são associadas a morte, um caçador de almas para encaminhar a Annwfn com seus cães errantes. O cristianismo, ao chegar no País de Gales, transformou Annwfn em um inferno ou purgatório, porém este é o mundo dos ancestrais na visão tradicional.

Rhiannon: Filha de Heveydd, não queria casar-se com Gwawl. Foi até Dyfed encontrar Pwyll, que era o seu verdadeiro amante e marido. Ela é relacionada aos pássaros e aos cavalos, sendo uma representante da Soberania da Terra e  da Senhora de Affalach. Mãe de Pryderi, encontramos ela no primeiro e no terceiro ramo do Mabinogion. Seu nome e culto tem relação com Rigantona (panteão britônico) e Morrighan (panteão gaélico) e Epona (panteão gaulês).

Heveydd: Pai de Rhiannon, chamado de “O Velho”. Um rei ancestral, um avô primordial.

Pryderi: Filho de Rhiannon e Pwyll é o principal herói dos contos do Mabinogion. Muitos consideram que os ramos do Mabinogion contam a sua história, do seu nascimento a sua morte. Senhor de Dyfed, depois da morte de seu pai, ele reina junto a sua mãe e sua esposa Kigva.

Kigva: Esposa de Pryderi, o acompanha sempre em suas caçadas e afazeres. Uma dama sempre representada de forma reservada e pueril, uma esposa dedicada e quem sabe uma protetora do lar.

Teyrnon: Senhor de Gwent e pai adotivo de Pryderi. Seu nome está relacionado a Tigernonos (panteão britônico) ou Teutatis (panteão gaulês), “Grande Senhor”. Alguns o associam a Manawydan. Sua história revela a prática recorrente do Fostarage (acolhimento) entre os povos celtas.

Branwen: Filha de Llyr e Penarddun, é uma importante deusa, associada aos pássaros, que aparece no segundo ramo do Mabinogion. Ela é considerada uma deusa do amor, mas seu casamento arranjado não trás paz entre Irlanda e País de Gales. Sua história se assemelha a irlandesa Deirdre dos Lamentos, que morre de agonia e tristeza ao ver os seus parentes e amantes se matarem pelo seu amor.

Bran: Referido como Bran, o Abençoado (Bendigeidfran). Ele é filho de Llyr e Penarddun e concede a mão de sua irmã, Branwen, ao rei da Irlanda, para que os países selassem um acordo, mas o casamento não dá certo e um conflito bélico inicia séculos de discórdia entre as ilhas. Ele é considerado um gigante entre os seus, muito alto e muito grande, de força descomunal, não cabendo nas casas comuns – recorda o Dagda dos gaélicos. Sua cabeça foi enterrada na Colina Branca, onde hoje se encontra a Torre de Londres. Seu rosto foi enterrado voltado para a França, para proteger a ilha de toda e qualquer invasão.

Llyr: Muito pouco se sabe sobre Llyr, que pode ser associado a um deus dos mares primordial. Ele é pai de Bran, Branwen, Manawydan, referidos como os Filhos de Llyr. Segundo o consta na tradição, Llyr foi preso por seu rival Euroswydd, e se relaciona com sua esposa Penarddun, tendo seus filhos.  Pode ser o mesmo que Lir dos gaélicos, pai de Manannan Mac Lir – no País de Gales, Manawydan fab Llyr, uma divindade pan-céltica que ultrapassa limites de fronteiras culturais e linguísticas.

Euroswydd: Casado com Penarddum, pai de Nissyen e Evnissyen (esses últimos, gêmeos que representam a polaridade do universo).

Penarddun: Matrona, filha ou as vezes referida como irmã de Beli Mawr, esposa e amante de Llyr e Euroswydd e mãe de Bran, Branwen, Manawydan, Nissyen e Evnissyen. Seu nome pode ser traduzido como “Cabeça da Justiça”.

Manawydan: Filho de Llyr e Penardun, associado aos mares e ao resgate de Rhiannon e Pryderi. Inclusive casa-se com Rhiannon após a morte de Pwyll. Ele um dos sobrevivente entre a guerra da Irlanda e Gales por causa do casamento de Branwen com o rei irlandês Matholwch. Um dos “Três Sapateiros de Ouro da Grã-Bretanha”, assim como Gwydion.

Nissyen e Evnissyen: Irmãos que podem representar o ideal de polaridade, numa visão galesa. Nissyen é bom e gentil, e nunca arranja confusão, enquanto Evnissyen é agressivo e de má índole, sempre procurando pela desordem. São filhos de Pernarddun e Euroswidd. São personagens centrais na contenda do casamento de Branwen.

Math: Senhor e Gwynedd, filho de Mathonwy. Envolveu-se numa guerra entre norte e sul de Gales, pelo roubo feito por Gwydion dos porcos de Dyfed. Referido como um rei, mago-druida, possuidor de uma varinha mágica, campeão. Junto a Gwydion, criou Blodeuwedd de nove flores e nove poderes mágicos. Seu nome pode estar relacionado no proto-celta a “Matu” ou “Art”, que significaria “Urso”. Precisa descansar seus pés sobre o ventre de uma virgem, representando a hibernação do inverno da Terra.

Mathonwy: Mãe/Matrona de Dôn e Math. Há poucas referências sobre ela. Pode ter alguma relação com a palavra Matugenos e com a deusa Artio na Gália. Uma grande mãe ligada ao totem do urso, quem sabe sua morada seja na Constelação da Ursa Maior.

Gwydion: Filho de Dôn, sobrinho de Math, citado como mago-druida, campeão de Gwynedd, bardo, ladrão de porcos e senhor do Caer Wydion, seu castelo entre as constelações da Via Láctea. Seu nome pode ser traduzido como “Nascido das Árvores” e está associado ao conhecimento das plantas. Ele cria e treina seu sobrinho Llew, contra os gostos de Arianrhod. Assim como Manawydan, é citado como “Três Sapateiros de Ouro da Grã-Bretanha”. Também é um dos criadores da noiva para Llew, Blodeuwedd.

Goewin: Virgem do qual Math colocava os pés em seu ventre puro, uma referência da ligação da Terra (feminino) e do céu (masculino). Tornou-se a esposa de Math e rainha de Gwynedd, após Gilvaethwy ter violado sua honra.

Gilvaethwy: Sobrinho de Math e campeão de Gwynedd. Violou Goewin com a ajuda de Gwydion e foi transformado por seu tio em fêmea de três animais como castigo pelo seu ato. 

Bleiddwn, Hydwn e Hychdwn: Filhos de Gwydion e Gilvaethwy, nascidos quando os dois campeões foram transformados em fêmeas e machos de três animais: javali, lobo e gamo.Podem ser associados a floresta e ao mundo selvagem.

Arianrhod: Filha de Beli Mawr e Dôn, seu nome de traduz como “Roda de Prata” (proto-celta Argantorota). Dá a luz a Dylan e Llew, depois de passar por cima da varinha mágica de Math. Mora em Caer Arianrhod, que se localiza na constelação de Corona Borealis. Alguns a associação a Lua (Roda de Prata). Ela nega a seu filho Llew três aspectos da masculinidade celta em forma de tabu ou tynged: ter um nome, ser armado e possuir uma esposa. Isso confere a ela uma característica feminina de poder, do qual lança feitiços sobre um determinado herói, que devem ser cumpridos ou ultrapassados.

Dylan: Filho de Arianrhod. Seu nome e pode se traduzir como “Filho da Onda”. Ele é associado aos mares e foi morto por seu tio, Gofannon. Como um deus das ondas, pode estar associado ao outro mundo.

Llew Llaw Gyffes: Filho de Arianrhod criado por Gwydion. Associado a Lugh (panteão gaélico), Lugus (panteão gaulês) e Loucetios (panteão galo-romano). Senhor de Donodig, e referido como rei, campeão, bardo, ajudante de sapateiro, herói. Sua esposa foi Blodeuwedd, mas não tiveram descendentes. Seu nome se traduz por “Menino Brilhante das Mãos Habilidosas”, e está no proto-celta relacionado a luz, ao Sol e ao brilho.

Grown Pebyr: Senhor de Penllyn e caçador, amante de Blodeuwedd. Pode estar associado a Annwfn, quem sabe seja um dos arquétipos de Arawn, senhor do Outro Mundo.

Dôn: Matrona/Mãe de Arianrhod, Gofannon, Amaethon, Gwydion e Gilvaethwy. Muitos associam seu nome a deusa Danu ou Dana, relacionada ao rio Danúbio e muito recorrente nos mitos celtas (Tuatha de Dannan, “Tribo de Dana”).

Beli Mawr: Seu nome pode traduzir-se por “Beli, o Grande”. Associado ao deus Belenus ou Belinos (panteão gaulês) e Bile (panteão gaélico). O ritual de Beltane (Fogos de Bel) deve seu nome a esse deus. Relacionado ao fogo que destrói os miasmas do inverno e as fontes curativas. Um Patrono/Pai do panteão.

Gofannon: Filho de Dôn, é considerado um deus das artes, as fábricas, a bebida alcoólica (cerveja) e da metalurgia, patrono dos ferreiros e artesãos. Associado a Govanon (panteão britônico) e Gobannus (panteão galo-romano), Goibniu (panteão gaélico). Literalmente seu nome significa “Ferreiro” ou “Forjador”. Ele matou com um golpe fatal seu sobrinho, Dylan, sem saber quem era ele.

Amaethon: Filho de Dôn, deus da agricultura e trabalho. Seu nome significa “Agricultor” ou “Trabalhador” e vem do proto-celta Ambaxtonos. Associado a Ambactos (panteão gaulês).

Cerridwen: Mãe de Morfran, Crearwy e Taliesin. Senhora da feitiçaria, alquimia e da medicina. Possui um grande caldeirão onde cozinha suas poções, e a principal é a que contem toda a inspiração do mundo, a Awen. Os porcos são associados como seus totens. Mas como uma metamorfa, se transfigura em diversos animais como galinha, falcão, lontra, gato.

Mabon: O filho de Modron, relacionado a juventude e ao verão. Foi raptado quando bebê e sua mãe ficou desolada. No contos arthurianos, Arthur ajuda a encontrar Modron caçando um grande javali chamado Twrch Trwyth.

Modron: Mãe de Mabon, associada as matronas galesas e a soberania da terra. Tem seu filho sequestrado e vaga em busca dele. 

Olwen: Filha do rei gigante Ysbaddaden Pencawr e uma bela mulher que por onde passava desabrochavam flores. Culhwch, como uma espécie de Hércules, tem de fazer tarefas para conquistar sua mão em casamento. 

Culhwch: Herói que para conquistar a mão de Olwen tinha de seguir a risca os conselhos e uma lista de tarefas de seu futuro sogro. Dentre os desafios estava matar o javali Twrch Trwyth e trazer as tesouros que estavam entre as orelhas do animal para cortar a barba e cabelo do rei dos gigantes.

Gwyn ap Nudd: O "filho de Nudd" - faz referência ao Nuada dos gaélicos -, um senhor do outro mundo, ou seja, Annwfn. 

Creiddylad: Filha do rei Lludd, também uma noiva da primavera e as flores. Seu amor é disputado entre Gwyn ap Nudd e Gwythyr ap Greidawl no período do mês de maio. Quem sabe outro nome para Blodeuwedd.


Nomenclaturas e Aspectos


Representação imagética de Blodeuwedd por Renata C. B. @loucashistorinhas

So they took the blossoms of the oak, and the blossoms of the broom, and the blossoms of the meadow-sweet, and produced from them a maiden, the fairest and most graceful that man ever saw. And they baptized her, and gave her the name of Blodeuwedd.

(Lady Charlotte Guest, 1887)

***

Seu nome tem origem do proto-celtico *blāto-weid-ā, que teria um significado próximo à “face de flor” ou “feminino selvagem”. Quanto a escrita, seu nome tem muitas formas e deu origem vários outros, onde temos: Blodeuwedd, Blodeuedd, Blodwin, Blodwinn, Wlodwin, Blodwinne, Blodwenne, Blodwynne, Blodeuyn, Blodwedd, Blodwen, Blancheflour, Bladene, Bladine, Bladyn. A pronúncia está próxima do que você lê aqui: “Blô-dai-uef”, “Blô-da-uin”, “Blô-doo-weth” e assim por diante. Lembrando que B, V e F são sons que se confundem muito nas línguas indo-européis e o TH quase não se pronuncia. 


Retomemos a tradução do seu nome “Blodeuwedd” do Galês Médio: Blodeu = Flores e Gwedd = Face, Semblante, Aparência, Rosto. Tem origem na palavra do Galês “Blawd” (Flor). Então podemos assim traduzir seu nome como “Cara de Flor”, “Rosto de Flores”, “Aparência das Flores”, “Semblante das Flores”. Alguns preferem a tradução “Flor Branca”, por Gwyn significar branco. Quem sabe podemos aproximar a nomes latinos e de outras origens como: Florália, Flora, Florência, Florentina, Florbela, Florisberta, Florinda, Floriana, Fleur, Floris, Brancaflor, Belladonna, Açucena, Lilian. 

Blodeuwedd é referida como uma "Deusa das Ilhas Ocidentais do Paraíso”, o que nos trás como ideia principal de que Ela é uma senhora do Outro Mundo, uma Senhora de Avalon/ Ynys Afallach ou Annwfn. Relembrando que seus dedos são tão longos e brancos como a “Nona Onda do Mar”, outra referência para sua morada no Outro Mundo. A Rainha-dos-Prados, uma das flores que dá origem a existência de Blodeuwedd, é popularmente apelidada de "Dama das Flores” e "Véu da Noiva", justamente como na tradição mítica a deusa é apresentada: como uma dama e noiva. Outras flores de sua criação, como a Prímula, a Giesta e o Pilriteiro/Espinheiro são ligadas ao período de Maio e as festividades que celebram o amor e a união do masculino e do feminino. Nos aventurando um pouco mais, encontramos relatos a comparando a figura popular e folclórica de algum tipo de “Noiva Branca”, “Fantasma Branco”, “Fada Branca”. Ou quem sabe possamos entende-la a partir do antigo costume da “Rainha de Maio” nas festas de Maio (Beltane ou Calan Mai). 

Ela também é uma Senhora de Eivionydd / Donedig, antigo castro de Gales, que era de seu marido Llew Llaw Gyffes. No mito de Culhwch e Olwen encontramos a figura de uma Coruja de Cwn Cawlwyd, considerada um dos animais mais antigos e sábios do mundo - e pode fazer relação com a história de Blodeuwedd, já que ela fora transformada nessa ave. Se corujas são referidas com seu nome no País de Gales, então Blodeuwedd merece o epíteto de “Mãe das Corujas” ou “Senhora das Corujas” ou em um nome latino, Corália ou Corina. Ou então, por ser feita de flores, ela é a “Filha das Flores" ou a "Musa das Nove Flores". Blodeuwedd por estar associada ao número 9 (nove) pode ser ela própria a encarnação das nove governantes de Avalon ou das nove musas que sopram o Caldeirão da Poesia em Annwfn. Sempre lembrando que seu nome foi dado por Gwydion e Math. Blodeuwedd foi um nome dado a ocasião da criação dela, já que foi feita de flores. Quem sabe seu nome fosse outro, um mais antigo, relacionado a Soberania da Terra, uma deusa ancestral de muitos nomes soprados no vento.


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